A ARTE DE VOAR SEM ASAS NA TERRA DAS ALMAS
Em meio a uma noite de sábado turbulenta e de muitos sonhos, tive o prazer de me deliciar com os encantos e a certeza de que, em pelo menos um daqueles sonhos, eu realizaria um desejo. Longe de tudo e de todos perambulei noite adentro, como se fosse uma alma, por aquela cidade pequena de pessoas simples e acolhedoras, mas a vontade de voar era tão grande que na falta de espaços e ruas pelas quais eu já havia percorrido, sentia-me obrigado a buscar novos caminhos que pudessem agregar forças para realizar o meu grande voo, o meu grande desejo. Foi assim, em um desses voos que avistei um imenso pasto e ao lado dele uma pequena civilização, parecia mais um pequeno povoado do que uma cidade, mas, foi lá que fiz a minha primeira aterrissagem, também foi lá que conheci um grande amigo que me ensinou as rotas para os inúmeros voos que estariam por vir, foi na zona rural que descobri imensas clareiras onde pude aterrissar e cooptar novos aliados para a realização daquele grande sonho. Foi de lá que surgiu o desafio de voar sem asas apenas para realizar o meu tão sonhado sonho. Sonhava tanto que, certa feita, me vi arrodeado de pessoas que gritavam cada vez mais alto o meu nome, e foi naquele momento que percebi que estava realmente sem asas para voar tão alto quanto a minha imaginação. Não sabia mais a quem recorrer para ter asas para voar, voar tão alto quanto as almas da Terra das Almas. Continuava dormindo, mas sabia que me restavam poucos minutos para continuar sonhando. Continuei com aquela peregrinação, voava alto e baixo ao mesmo tempo, no intuito de propagar o bem para aquela gente e com isso ter a certeza que durante todo o voo nada ficaria para trás, que tudo estaria conforme o combinado e arquitetado, mas eu nunca imaginaria que parte daquela tripulação me trairia no último e mais alto voo. Fui arremessado, sem dó nem piedade, para a tumba das almas ferozes que morriam de inveja da minha arte de voar sem asas. Tentei resistir ao máximo, recorri ao chefe delas, mas não fui atendido nem acolhido, pelo contrário, fui execrado e fulminado naquela noite de sábado, no momento mais prazeroso do meu sonho. Quando me faltavam poucos minutos para acordar, descobri que procuravam cortar as minhas asas para que eu não continuasse voando. Pobres almas, esqueceram-se que durante toda aquela trajetória o que mais aprendi foi a arte de voar sem asas na Terra das Almas. Vanderlon Cunha